08/06/2013

Potencias capacidades.

A noite urgia, as casas se faziam cada vez mais silenciosas, os corações se aqueciam entre grades, portas, cadeados e trincas. Tudo seguia a ordem dos quarteirões e esquinas, nada que deturpe o sopro do vento como melodia.
Ao romper de uma nota, como um imprevisto veio à improvisação, postou-se sob as luzes do bairro, rasgando o som e os corações “cômodos”:
A morena latina, junção única entre o ibérico e cafuzo, as cores do corpo latino transcendiam as luzes, a noite se fez dia, os orifícios urbanos regurgitavam, grades, portas, cadeados e trincas, derretiam devido à ebulição dos asfaltos. Ah menina-mulher!
O sangue ferve, desmantela a rotina, os sentimentos urram a fora, os corações correm para fora, as casas vêm abaixo, os corações se tocam, as peles ficam ouriçadas, as ruas, os quarteirões, as esquinas, as avenidas, nunca estiveram tão abarrotadas de corações.
E assim se despede a mulher-morena-menina-latina-ibérica-cafuza-criola, esta era sua vida, sua função, sua missão, seu objetivo, seu marco. Assim caminhava rumo a outras casas gélidas, prestes a transgredir com o presente, deturpar a melodia do vento, deixar implícito aos corações às potenciais capacidades.

02/05/2012

1 ano 1 dia

Há de haver um grau determinante pelo sentimento o qual comove o coração, senão o tempo incendiador do entrelaçar imediato?
É injusto que tentemos padronizar algo imensurável como o a cadeia de sentimentos que se estabelecem aos contatos.
São frações, cenas, escritas, brigas, tristezas, perdões, transcendências, nascimentos, sentimentos, danças, lutas, sussurros, amassos, amor, prazer, safadezas, banalidades, loucura, risadas, estrelas, estudos, ajudas, confortos, chuvas, doenças, muitos abraços, pensamentos, distância, família, filhos, cachorros, ciúmes, amigos, choros, tesão, muito sexo, miojos, lasanhas, macarrões, pizzas, ketchups, cachorros-quentes...
De fato, Kayleigh Machado.
Somos loucos. Você fica puta do transporte público, em qualquer ônibus, metrô, onde haja um aglomerado de pessoas. Nós gritamos na frente de todo mundo, nos nós pegamos na frente de todo mundo, nós fazemos amor no terraço, nas festas, nas nossas casas (sofá, quarto, banheiro, lavanderia, cozinha, sala, chão), na praia e em lugares que não podem ser descritos aqui.
Somos sensíveis. Nos nós emocionamos depois de toda transa bem feita, onde nós colocamos coração lado a lado e desabafamos da loucura de todos os dias.
Nós choramos, seja por um texto bem escrito, uma música que faça sentido, um filme que nos toque, por (muitas) conversas, por (muitos) olhares, por (muitos) toques, pela distância, pela saudade.
Somos amantes, desligamos o telefone rápido, nos vemos escondidos, ficávamos até tarde juntos e contávamos lorotas, beijávamos rápido na escola pra ninguém ver, nos pegávamos em baixo da escada.
Somos amigos, nós estudamos juntos, nós nos preocupamos, nós brigamos, nós discutimos, nós conversamos, filosofamos, fumamos, caímos, bebemos, rimos, nos abraçamos, nos confiamos, nós conhecemos novas pessoas.
Enfim, Kayleigh Machado, o que somos nós?
Somos obesos, nosso amor se engorda cada vez mais, nossos sentimentos são gordinhos, nossa relação, nem se diz, é muito obesa.
Essa obesidade que somos é grande, só no concreto tem uma pequena parcela ali em cima.
Nós estamos unidos, entrelaçados, misturados, entre o que se temos e o que sentimos, estes são inseparáveis, não é mesmo?
Nessa jornada nossa, nesse caminho, nessa nova vida, nesse mundo, que nós mesmos construímos, faz com que nós nos descobrimos um a um, a cada momento, cada segundo, cada fração de vida, qualquer gota d’água que pingue sobre nós dois, mostra o que somos, o que queremos ser e o que fomos e como mudamos.
Seus olhos me envolvem, em uma dança atraente, vulgar e quente, me faz cheio de vontade, me acolhe, me estremece, me ensina, me faz idealizar o amor que eu sempre quis ter.
Pois é, os sentimentos entrelaçados, as setinhas no caderno que apontam para todos os lados, pensamentos abarrotados de amor, as estrelas incontáveis, essa é a vida, a nossa, única e especial nossa vida, nosso amor, nossa transa, nossa história.
Faz-me feliz, faz-me seu homem, faz-me minha heroína, faz-me meu vício, minha mulher, minha segunda mãe, minha amiga, meu outro eu.
Faz, você já faz.
Faz um ano e um dia.

30/01/2012

Caro Sr. Rubens.

Eu tento lhe desvendar por meio de algumas escritas e histórias, mas por vezes, muito estes estão unidos com suspiros de admiração e até me lembro de alguns com rancor.
Desenho-te, junto a minha imaginação, um rosto magro, cabelos escuros, um bigode fininho acima da boca e um corpo magro e frágil com um ar muito intelectual.
Como em um conto não terminado, eu escuto teus passos na madrugada clara e fria em busca de mais um novo emprego, cigarro à boca, o raspar do fósforo, a primeira baforada de muitas outras que vão se estender até o fim da iluminação natural que a cidade urbana permite.
Virão outros cigarros, o tempo vai se esgotando entre o homem, na medida de cada baforada, sua filha o espera assim como a noite se apresenta diante as luzes dos postes, as mulheres da vida, se multiplicam os jogos de azar, a cidade é um pavio curto para desejos imediatos, meu caro.
No bairro próximo a sua casa, a noite toma conta completa das ruas, contudo as crianças aquecem o espírito noturno, nunca é tarde demais para as crianças, ah sua filha, as saudades lhe vem ao peito, o abraçar de uma criança repleta de inocências, é cruel pensar que estas são destruídas ao longo do tempo, até mesmo para tua filhinha.
Enfim, teve sua filha aos braços, correria pela casa, choro e muita confusão, sem imaginar sua relação com sua amada mulher; pulo para a parte dos livros.
Entre tão poucos quartos há um refúgio por detrás das folhas, os livros o tomam conta, o cigarro mantém-se a boca, a fumaça entra em contato com o ar, assim como se embarca em uma viagem , viagem do imaginar, defrontando-se com tudo que é tão racional e vívido perante teus dias.

Assim como eu, na deliciosa capacidade de adentrar a imaginação, fiz um rascunho, rabisco, da pessoa a qual nunca tive a possibilidade de me apresentar, mas, perante aos traços da família e toda essa sua proeza misteriosa de encantar, te guardo no peito, como uma forma de querer te amar.